terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O Assassino do Batom

 


Utilizando a parceria da imprensa, o LAPD (Los Angeles Police Departament) resolveu mudar de tática e aceitar um dos confessores, Joseph Dumais, deixando publicar que o caso estava resolvido, mesmo tendo provas que Dumais não era o criminoso, apenas um desequilibrado. A tática consistia em utilizar o egocentrismo do assassino contra ele mesmo e forçá-lo a se entregar. Acreditava-se que, sendo outra pessoa reconhecida como o autor deste crime notório, o assassino se sentiria roubado em sua fama e daria um novo passo se entregando ou cometendo algum erro que o denunciaria.
            Sua reação foi a pior possível e inesperada. Além de não se entregar, cometeu outro assassinato. A vítima foi Jeanne French, uma aspirante a atriz que ganhara alguma fama em Los Angeles, posteriormente havia trabalhado como enfermeira e fora uma das primeiras mulheres a adquirir o brevê de piloto nos Estados Unidos. Seu corpo foi encontrado nu a 10 de fevereiro de 1947 (apenas dois dias após ter sido noticiado a prisão de Joseph Dumais e o fim do caso Dália Negra) em um lote vazio na Grandview Avenue, cerca de 7 milhas de onde fora encontrado o corpo de Elizabeth Short. Em seu corpo fora escrito com batom vermelho FUCK YOU e assinado B.D. (Black Dahlia).


            Jeanne sofrera vários golpes no tórax, rosto e cabeça e teve sua boca cortada à semelhança de Elizabeth Short. A causa mortis foi determinada como resultado da perfuração do coração por uma das duas costelas quebradas pelos golpes. Logo após este crime, e fracassada a tática da polícia, Dumais foi solto e considerado apenas um desequilibrado. A imprensa se apressou em apelidar o caso de Assassino do Batom Vermelho.

            A autoria deste crime foi, inicialmente, ligado ao Caso Dália Negra, contudo a falta de provas fez com que os crimes fossem tratados separadamente e continuam a compor o rol deCold Cases do LAPD.

            Muita coisa se falou e se investigou sobre o caso Dália Negra, contudo nunca se ultrapassou a barreira de uma simples coletânea de indícios circunstanciais. O primeiro investigador designado para chefiar o caso, Harry Hansen, aposentou-se vinte e três anos depois sem esconder a sua frustração com o caso não resolvido. Outros investigadores que o sucederam, da mesma forma, se aposentaram sem qualquer progresso.



O ASSASSINO

            Muitos anos após, e estando quase esquecido o crime, um detetive aposentado do LAPD, chamado Steve Hodel lançou novas luzes sobre o caso. Em 1999, após a morte de seu pai George Hodel, encontrou um intrigante álbum de família composto por fotos de pessoas que aparentemente significavam muito para ele e que guardara com muito cuidado durante várias décadas. As pessoas que apareciam nas poucas fotos eram duas de suas ex-esposas, alguns de seus filhos, a nora (do primeiro casamento de Steve) e, curiosamente, duas fotos de Elizabeth Short, aparentemente pouco tempo antes do assassinato. Em uma destas fotos, Elizabeth Short aparentemente estava nua ( a foto fora recortada para ficar do mesmo tamanho das demais e mostrava apenas seu rosto e parte dos ombros nus).

            Desde este momento Steve iniciou um intenso trabalho de investigação sobre seu pai, George Hodel, o qual praticamente desconhecia, pois o estilo de vida e a postura distante da família que assumira durante toda a sua vida formava uma verdadeira muralha em volta de seu caráter e de seus atos durante toda a sua vida. Suas descobertas foram assustadoras, revelando George Hodel como um homem excêntrico, de extrema inteligência e capaz de realizar atos dos mais brutais já imaginados. As diversas ligações de George Hodel com o caso (embora circunstanciais) parecem não deixar dúvidas de que ele foi realmente o autor deste bárbaro crime, além de muitos outros. No entanto viveu livre e confortavelmente até os últimos de seus dias com mais de 91 anos.

GEORGE HODEL

            Desvendar George Hodel foi uma tarefa que demandou muitos anos de investigação de seu filho Steve Hodel. O resultado de suas pesquisas foram inicialmente divulgadas no seu livro The Black Dahlia Avenger, lançado em 2003 nos Estados Unidos.

            George Hill Hodel Jr., filho de imigrantes russos, nasceu em Los Angeles em 1907. Seus pais se preocuparam muito com sua formação intelectual e educação formal. Aos 9 anos de idade já era um exímio pianista e fora escolhido para dar um recital para a comissão belga que fora aos Estados Unidos para as celebrações aos franceses. Seu QI excepcional, 186, situava-se um ponto acima do de Albert Einstein, o que lhe rendeu vários anos no programa de pesquisa de QI do Dr. Lewis Terman.

            Em 1923, com apenas 15 anos, ingressou no California Institute of Technology em Pasadena. Porém, sua prodigiosa carreira como engenheiro químico foi interrompida pela sua expulsão resultante de sua tendência para o lado obscuro da vida (as razões são incertas, informa-se que foi por motivo de ter engravidado a esposa de um membro da faculdade ou por jogar poker, jogo proibido).

            Trabalhou inicialmente como motorista de taxi e em outros pequenos empregos. Trabalhou também como jornalista, porém em 1928 ingressou no programa médico da University of California em Berkeley, onde se graduou em 1932. Por volta desta época, estava casado com Emilia, sua primeira esposa, e já tinha um filho chamado Duncan, quando então conheceu Dorothy Anthony. Seu poder persuasivo convenceu as duas mulheres em reunir todos numa única família. Dorothy deu à luz uma filha, Tamar.

            Por volta de 1939, estava trabalhando no L. A. Country Health Department, já desvencilhado de Emilia e Dorothy, passou a viver com outra Dorothy, Dorothy Huston, a quem chamava de Dorero para que seus amigos não confundissem com sua esposa anterior. Desta união nasceu Steve e outros dois irmãos. Futuramente se casaria com June, sua última esposa.


            Em 1945 foi admitido na UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration), indo trabalhar, no início de 1946, na China. Lá, embora fosse civil, possuía o posto honorário e as honras de general de três estrelas. Retornou a Los Angeles em setembro de 1946.

            Algumas de suas amizadas demonstram bem o seu estilo de vida. Sua grande vocação para fotografia o aproximou do famoso artista surrealista Man Ray, o qual mantinha contato muito próximo, com prolongadas reuniões noturnas regadas a whisky e a entorpecentes, como cocaína. O próprio George Hodel pousou para várias fotos de Man Ray.

            Em 1949, apenas dois anos após o assassinato da Dália Negra, George Hodel foi preso por estuprar sua filha, Tamar, de apenas 14 anos.

            Tamar contou à polícia que George a drogou e a obrigou a fazer sexo oral com Fred Sexton que, em seguida, copulou com ela; tudo na presença de George e mais duas mulheres. Da mesma forma, após Sexton, George Hodel também a obrigou a fazer sexo oral e copular com ele. Ainda contou que, na sequência, uma das mulheres fez sexo oral com a garota. Tamar também contou que meses antes fizera um aborto patrocinado por seu pai George Hodel.

            Durante o julgamento, Fred Sexton admitiu ter feito sexo com Tamar, também uma das mulheres que os acompanhavam admitiu ter feito sexo oral na garota.

            O processo que fora um grande escândalo em Hollywood, e figurava como uma condenação certa por incesto, sofreu um grande revés. George Hodel ao testemunhar convenceu a todos de que era apenas uma sessão de hipnose onde nada de mais acontecera; que Tamar era uma mentirosa compulsiva e seu lugar não era perante o júri e sim numa clínica psiquiátrica; além de afirmar que as testemunhas que admitiram o caso o fizeram apenas porque lhes haviam oferecido um acordo para prendê-lo (o acordo com a justiça realmente existia, embora fosse para confessarem e não mentir). O final foi a absolvição de Hodel e a completa desmoralização de Tamar.

            Décadas depois, a filha de Fred Sexton afirmou a Steve Hodel que sabia que Tamar não estava mentindo pois seu pai a violentara diversas vezes entre os 8 e 14 anos de idade.



SADISMO SURREAL

            As ligações íntimas entre o artista/fotógrafo surrealista Man Ray e George Hodel, conforme estudos de Steve Hodel, foram muito além da vocação para fotografias de George. Eles realmente dividiram ideias e concepções muito distorcidas da realidade. Steve Hodel em nada exagera ao demonstrar a influência de Man Ray em George Hodel. De fato, este o tratava como um verdadeiro mentor, oferencendo-lhe diversas recepções noturnas em sua mansão.
            Numa rápida pesquisa no Google, procurando-se o nome MAN RAY e selecionandoimagens, poderemos encontrar um obra sua de 1930 que muito bem parece inspirar o assassinato de Elizabeth Ann Short: The Fantasies.
The Fantasies
 (Man Ray e às fantasias de Mr Seabrook-1930)

            Uma breve comparação com as lacerações sofridas por Elizabeth Short deixa claro que o trabalho fora realizado por, pelo menos, mais uma ou duas pessoas que se deleitaram num ritual de sadismo cruel.


            Três comparações não podem deixar de serem feitas: primeiro, observando-se o punho da mão direita, sugere-se que a vítima estava amarrada pelos membros para um ritual sádico; segundo, sua púbis fora retalhada com uma faca, deixando diversos cortes trançados, além de haver uma grande incisão logo acima; terceiro, seu mamilo direito juntamente com a auréola mamária fora estirpado tal como sugere a obra de Ray. Para completar o quadro de ritual sádico, durante a autópsia foi encontrado fezes humanas na cavidade oral, no interior da vagina e nos tecidos da cavidade pélvica.
            Embora Steve Hodel aponte Fred Sexton como suspeito número 2, ou possível co-autor, vale lembrar que Man Ray suportou a pressão até que George Hodel foi preso em 1949 e julgado por incesto com sua filha Tamar de 14 anos. Man Ray se mudou definitivamente de Los Angeles apenas dois meses após o término do julgamento, indo morar na França, bem distante do LAPD!

ALGUNS ARTIGOS DA ÉPOCA 

THE FARGO FORUM, 16 JAN 47
THE SACRAMENTO BEE, 27 JAN 47

DÁLIA NEGRA NO CINEMA
            Finalmente,  depois de mais de cinco décadas de sua morte, Elizabeth Short realizou seu sonho, estreando nas telas de Hollywood com um filme que carrega seu “nome artístico” de grande força: Black Dahlia.
            O romance não procurou retratar a vida de Elizabeth Short e sim as consequências (principalmente psicológicas) do seu assassinato para a vida de Los Angeles, mas especificamente de Hollywood.
            Atualmente já se sabe o bastante sobre a vida de Elizabeth Short e de George Hodel (mais aceito como possível assassino), sendo assim uma nova produção na “grande tela” mais baseada na história real certamente poderá causar maior impacto que o atual filme baseado no romance de James Ellroy.


DÁLIA NEGRA NA HISTÓRIA

            Muitos pesquisadores se dedicaram anos a fio para reconstruir a história do assassinato de Elizabeth Short e desvendar o caso “Dália Negra”. Cada trabalho publicado colocou mais alguns tijolos nesta obra macabra da humanidade. Alguns destes fazem o deleite daqueles que já se tornaram aficcionados pelo caso e valem ser lidos. Como falamos no início, é muito difícil conhecer um pouco da história deste assassinato e não querer saber mais.




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