quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

John List



John List
John List
John Emil List nasceu em 1925, no Estado de Michigan, nos Estados Unidos. Era filho único de John Frederick List e Alma List. Seus pais eram religiosos, luteranos.
Era uma criança cuja mãe não queria que brincasse com outros para que não se sujasse. Superprotetora, dava-lhe alguns banhos por dia.
O pai raramente falava com o garoto, quando queria lhe dizer algo pedia para a mãe falar com “o garoto”. A mãe o levava para a igreja. Todos os dias liam a Bíblia juntos, à noite, prática que mantiveram até o dia da morte dela.
John List serviu o exército durante a 2a Guerra Mundial (1939 – 1945), mas sem ir para o campo de batalha. Seu pai morreu em 44, e List não demonstrou muita tristeza.
John List formou-se em Administração e depois especializou-se em Contabilidade.
Conheceu Helen em 1951. Ela era uma jovem viúva, com uma filha. A mãe não gostou da garota – e vice-versa, e assim seria daí em diante. Helen mentiu a List que ficara grávida dele e logo se casaram.
Tiveram 3 filhos: Patricia, John Jr e Frederick.
Patricia List < Patricia John L. Jr. < John List Jr. Frederick List < Frederick
Trabalhando como contador, em 1965 John List conquistou um bom cargo em um banco. Sua mulher o pressionou para comprarem uma casa maior. Ele comprou uma grande, de 18 cômodos, luxuosa, no subúrbio de Westfield, no Estado de New Jersey. Sua mãe ajudou-lhe a pagar pela casa, com a condição de morar lá.
Um ano depois, John List perdeu o emprego. Nos anos seguintes, arrumou outros empregos, mas logo os perdia, e as dívidas se acumularam, a ponto de em 1971 ele estar prestes a falir.
Família de John List
Família de John List
Viver na pobreza, para ele, era um pecado. De fato, para algumas religiões protestantes, Deus quer que você trabalhe e enriqueça. (O sociológico alemão Max Webber [1864 - 1920] mostrou que a razão do sucesso de alguns países era a religião que seguiam, no seu livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”).
Mas sua família não sabia que ele estava sem emprego, em novembro de 1971. Porque ele todos os dias se arrumava e saía de casa, dizendo que ia para o trabalho, mas passava o dia em uma estação de trens. List fez isto por meses!
Um dia, John List comentou com alguém que, com seus conhecimentos, seria fácil assumir uma nova identidade…

O crime de John List

5 de novembro de 1971. John List tem uma estranha conversa com seus filhos. Diz que eles devem estar preparados para a morte. Pergunta se prefeririam ser enterrados ou cremados. Eles respondem que preferem ser enterrados. John se levanta e sai sem dizer mais nada.
9 de novembro. Seus filhos vão para a escola. John List resolve, enfim, executar o plano que vinha maquinando há algum tempo, meticulosamente. Ele vai à garagem e pega duas armas: seu calibre 22 que trouxe da Guerra e uma 9 milímetros que era de seu pai.
Sua esposa Helen, de 46 anos, mesma idade de List, tomava o café da manhã. Ele chega pelas suas costas e dá-lhe um tiro na cabeça. Vai então até sua mãe, que tinha 84 anos, e acerta um tiro no olho esquerdo.
John para, limpa o sangue e a bagunça, e então arrasta o corpo de sua esposa para a sala de festas da casa. Na carta que deixa ao pastor de sua igreja, avisa: “P. S. Minha mãe está no closet. Ela era muito pesada para ser carregada.”
A mãe de John List
A mãe de John List
John troca de sapato e sai de casa para resolver algumas questões: envia uma carta para a escola de seus filhos dizendo que iriam viajar; vai ao banco e saca 2 mil dólares; cancela a entrega do jornal, do leite e, por fim, vai ao correio pedir que não entreguem cartas mais no seu endereço.
List volta para casa e come. Lava as vasilhas.
Seus filhos Patricia, 16 anos, e Frederick, 13, voltam para casa. John Jr., de 15 anos, ficou na rua porque iria jogar futebol. John List acerta os dois filhos também pelas costas, na cabeça. Arrasta os corpos para junto do da esposa.
E aguarda John Jr. chegar, para terminar o que planejara. Quando o garoto chega, ele pretende repetir o modus operandi: tiro na parte de trás da cabeça. Mas seu filho não morre imediatamente, parece tenta lutar. Para garantir sua morte, e selar o dia, List dispara cerca de dez vezes, uma arma em cada mão, contra o garoto que levava o seu nome.
John List arrasta o filho morto para junto dos outros corpos. Coloca todos sobre sacos de dormir, cobre seus rostos com panos. Já é quase fim do dia.
List matou a família
vítimas de John List
A família de John List, morta
A família de John List, morta
Vai ao quarto da esposa (dormiam separadamente), senta-se em sua cama. Vai ao banheiro e vomita.
Vai então ao seu escritório. Guarda a arma em uma gaveta, senta-se à sua escrivaninha e escreve uma carta de 5 páginas para o pastor (escreveu também para outras pessoas, notas mais curtas). Apaga as luzes da casa, diminui a temperatura do termostato, liga o rádio.
“Caro pastor, lamento acrescentar mais este peso à sua obra. Sei que o que foi feito é errado por tudo que aprendi, e que nenhum dos meus motivos pode justificá-lo.”
Além dos problemas financeiros, sua esposa estava doente (tinha sífilis, e abusava de tranquilizantes), e ele reclamava também do “declínio moral” de sua família – sua filha começava a voltar tarde para casa e foi pega fumando, sua esposa estava se distanciando de Deus… O clima na casa não andava mesmo bom nos dias antes do crime, e Patricia havia dito a um professor seu que temia que seu pai a matasse.
“Eu sei que muitos dirão: ‘Como alguém pode cometer um ato tão horrível?’ Minha única resposta é que não foi fácil, e só puder fazer isto depois de pensar muito.”
Diz que pediu a Deus uma resposta, uma ajuda, mas Ele não a deu. Encerra a carta com um pedido: “Por favor lembre-se de mim em suas orações. Eu precisarei delas.”
Ele disse ainda estar certo de que Deus o perdoaria, já que Cristo havia morrido por ele e por todos os pecadores.
John List reza sobre os corpos (“Era o mínimo que eu podia fazer…”), liga para o pastor e diz que não poderá falar na igreja, no próximo sábado. Alimenta os peixes, liga seu carro e some…
A casa dos List em chamas
A casa dos List em chamas
Por um tempo, List foi suspeito de ser “D. B. Cooper”, nome fictício atribuído a um homem que sequestrou um avião, roubou 200 mil dólares e fugiu pulando de para-quedas. Este crime ocorreu 5 dias após os homicídios.
List planejou os homicídios tão detalhadamente que se passou quase um mês até que o desaparecimento das vítimas fosse notado. Quando a polícia entrou na casa, o rádio deixado ligado ainda tocava, uma música clássica.
A pacata cidade ficou pasma com o crime – há 8 anos não era registrado um homicídio no município. Dez meses após os crimes, um incêndio intencional queimou a casa.
Sua família foi enterrada em caixões baratos, pois ele não deixara dinheiro para o enterro.
A polícia descobre pouca coisa nas investigações preliminares. Uma das revelações é que List tinha uma caixa postal secreta, onde recebia pornografia. O carro estava no aeroporto e seu passaporte sumira, talvez ele tivesse saído do país.
Em pouco tempo, o caso cai no limbo.
18 anos se passam, estamos em 1989. Um detetive decide levar o caso de List, há muito esquecido, ao programa “America’s Most Wanted” (“Os mais procurados da América”, um espécie de “Linha Direta” dos EUA), que havia estreado há pouco tempo. Os diretores do programa inicialmente não quiseram exibir o caso, era muito antigo, mas depois foram convencidos de que era um caso interessante e importante.
Antes da exibição do programa, foi solicitado a um “artista forense”, Frank Bender, que fizesse um busto simulando como estaria List atualmente, já que as fotos disponíveis dele eram muito antigas.
O busto de John List
O busto de John List
John List costumava assistir ao programa, mas, naquela noite, havia ido à igreja. Uma vizinha assistia e ligou para a polícia. Ele chegou a tempo de ver o final. Transpirou um pouco, mas decidiu não fugir novamente.
Após o programa, mais de 200 ligações foram recebidas, falando sobre o paradeiro de List nos últimos anos. Atualmente, ele estava morando em outro estado (Virginia). Logo a polícia chegou a ele – e o senhor preso se parecia muito ao trabalho do artista.
John List e simulação
John List e busto
Um perfil psicológico ajudou o artista – List usaria pesados óculos para ter um ar professoral, transmitir segurança.
List estava casado novamente. Sua esposa me mostrou muito surpresa com toda a revelação. Para começar, ela pensava que o nome dele era Robert Peter Clark! Ou “Bob”, para os íntimos. “Robert Clark” era o nome de um colega de faculdade de John List.
List tinha se casado há poucos anos. Conhecera a nova esposa em 1977, e se casaram 8 anos depois. Ela afirmou: “Meu marido é um homem gentil, amoroso e protetor. Quem conhece o Robert sabe que ele só quer fazer o bem. Ele tem muita fé e ama a Deus.”
Estranhamente, sua nova vida repetia a anterior: ele ainda trabalhava como contador, frequentava a igreja e morava em uma grande casa.
John List preso
John List preso
Quando foi pego, ele não se assustou, e não confessou imediatamente. Foi levado para New Jersey dizendo ainda ser o tal Robert – mas, curiosamente, em nenhum momento perguntou por qual motivo estava sendo preso… Ele apenas continuava a negar ser John, mesmo com a evidência mais indiscutível: as digitais de Robert e John List eram as mesmas!
Mas ele logo cansou-se de negar o óbvio e assumiu todos os fatos.
Por onde andara List todo este tempo? O que ele tinha feito logo após o crime? Não, List não era “D. B. Cooper”. List se mudou para outro Estado e alugou um trailer, onde morou por um tempo. Trabalhou em um restaurante. Arrumou novos documentos com o nome falso. Logo viu que não teria problemas com esta nova identidade. Voltou a frequentar a igreja. Fez novos conhecidos. Encontrou Delores Miller e por ela se encantou. Fizeram aula de dança juntos. Ele disse a ela uma verdade: era viúvo. E uma mentira: sua esposa tinha morrido de câncer. Tudo explicado, se casaram. Mas outra coisa não mudara: continuava a ter problemas em manter seus empregos… Delores começava a reclamar de sua vida…
Em 1987, uma reportagem extensa em uma revista, com fotos, contava a história de John List. Uma vizinha do casal leu e teve quase certeza de que Robert era John. Levou a reportagem a Delores e sugeriu que a mostrasse a John, para ver sua reação. Delores concordou – e quando a amiga foi embora, jogou a revista fora. A vizinha não tocou mais no assunto – até o dia em que List apareceu na televisão e ela o denunciou.
Após ser preso, um psiquiatra analisou John List, e concluiu que ele tinha transtorno de personalidade obsessiva (caracterizado pela meticulosidade, senso de ordem, de organização), com o qual concordamos. List disse ao psiquiatra que só tinha dois caminhos: assumir a falência ou fazer o que fez. A falência o exporia ao ridículo, e ele ainda ouvia o que seu pai lhe havia ensinado: um homem deve cuidar de sua família, prover-lhe o necessário.
Foi julgado em 1990. Em nenhum momento demonstrou remorso por seus crimes. A irmã de Helen fez-lhe uma pergunta que a consumiu por quase duas décadas: “Por quê?”. Ele respondeu apenas: “Porque não havia outro jeito.”
List disse que só lembrava do crime no dia do aniversário dos homicídio, 9 de novembro.
Tentou alegar insanidade, mas foi condenado a cinco prisões perpétuas, uma para cada homicídio. Para o promotor, List era cruel e calculista como o Demônio.
Em uma entrevista que deu em 2002, direto da cadeia, referia-se a si mesmo como “ele”, quando contava a história. Foi questionado sobre ter parado para comer, calmamente, após os crimes, e se defendeu: “Eu estava com fome! Apenas isto.” E disse que, como relação à mãe, cumprira o que havia prometido ao pai: cuidar dela até o fim, evitar que sofresse.
Morreu em março de 2008. Na prisão. Com 82 anos (Na Justiça americana não há a condescendência da brasileira, presos não têm muitos benefícios por serem idosos.).
Foi enterrado próximo ao túmulo de sua mãe.
Helen List e filhos
Helen List e filhos

Talvez esteja no Céu com sua família. Se Deus existe, seus mistérios são insondáveis…

Imagens






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